Um Lugar para Ficar, Deb Caletti

Um Lugar para Ficar foi um livro que escolhi para iniciar a leitura inicialmente devido a capa - que é linda! O livro trata de um assunto bastante sério: relacionamento abusivo e o quanto ele pode desencadear uma série de situações perturbadoras na vida de quem o vivencia.

Acompanhamos tudo o que acontece no livro pela visão de Clara Pea. Ela é uma garota um tanto quanto comum de se encontrar no dia-a-dia: tem inseguranças, não decidiu que carreira seguir profissionalmente, mora com o pai, tem amigos interessantes... Não tinha nada de tão novo em sua vida até o dia em que ela conhece Christian e ambos passam a ter um relacionamento afetivo repleto de sentimentos intensos e diferente de tudo o que ela já viveu. Christian é o típico garoto bonito, mas que vai mostrando como realmente é com o passar do tempo. O relacionamento entre eles que fez Clara achar que tinha certo domínio, atitude e maior segurança, começa a ser um tanto quanto conturbado pela obsessão e ciúmes excessivo que seu namorado começa a ter por ela. O que antes era caracterizado por uma intensidade de sentimentos benéficos, transforma-se em um desagradável relacionamento, cheio de explosões de humor de Christian, desencadeando um mar de mentiras e o que é pior: medo. Como escapatória de tudo isso, Clara e o pai, um famoso escritor, acabam fugindo de tal perigo que Christian representa aos outros e a si próprio, e vão morar em uma cidade litorânea longe de tudo e de todos, mas rodeados de segredos. Segredos estes que parecem não querer largá-los assim, tão facilmente...


O livro é realmente envolvente. A autora me surpreendeu imensamente com a narrativa leve e gostosa de ler. O tema abordado na história, por si só, é algo do cotidiano, simples, e o que a Deb conseguiu criar ao redor do tema para envolver o leitor foi o que me fez prosseguir com a leitura até o final. Além disso, algumas dentre todas as reflexões que Clara Pea faz durante seus pensamentos sobre seu passado, presente e futuro mexeu bastante comigo. Consegui trazer para  realidade algumas coisas que ela mencionava. Porque o livro não é um sermão sobre como decisões erradas são irremediáveis, mas sim o que pode ser feito e como lidar com isso. É como uma conversa de mãe e filha - ou pai e filho.

A forma como a narrativa se estende é bastante interessante. A autora intercala passado e presente, e podemos ficar cientes de como está a vida resultante de todo o drama que Clara passou, e o que fez ela estar como de fato está. Além disso, Deb tempera a história com um suspense proveniente do trauma da garota que a dificulta tentar levar uma vida relativamente normal, unindo à questão dos segredos que a família carrega e a possibilidade de seguir em frente.

Clara Pea amadurece com o passar do tempo. Já Christian, consegui ver como um personagem que poderia ser melhor abordado. Ok, sabemos que seu comportamento doentio não está correto, mas alguns atos dele ficaram meio que "pairando no ar", não havia uma justificativa plausível que pudesse explicar os fatos. Em alguns momentos, senti muita desconexão no comportamento dele, mas talvez o problema seja justamente por termos a visão que Clara teve, sabermos o que ela sentiu, percebeu, e não uma visão "por fora" da situação. Senti falta de entender melhor o comportamento de Christian, mas acho que seria possível saber mais se não fosse narrado em primeira pessoa.

Um questionamento interessante que a autora trás é relacionado aos romances utópicos que vemos por aí, onde a obsessão de um namorado pela sua amada é tida como algo benéfico, prazeroso e desejado por muitas pessoas. Acredito que mostrar o lado "sombrio" da coisa toda foi um ponto interessante. Deb consegue nos fazer refletir sobre consequências que não são tão pensadas assim, frutos de um relacionamento irracional e doentio presentes na ficção.


A gente lê todo tipo de livro e vê filmes sobre um homem que é obcecado e devotado, que tem um foco único, como a luz e a intensidade de um farol. É Heathcliff com a Catherine. É um vampiro com uma paixão mais forte que a morte. Nós desejamos receber esse tipo de foco vindo de outra pessoa. Daríamos tudo para sermos "amados" assim. Mas esse foco não é símbolo de uma devoção perfeita, é apenas a escuridão, e os fantasmas atormentados da escuridão. (página 202)
O livro é ótimo! E eu realmente espero ver mais livros da autora por aqui!!

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6 comentários

  1. Adorei a sua resenha. O livro parece ser bem interessante, a história também
    Com certeza vai para minha lista de desejados
    Abçs

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  2. ahh a resenha ficou ótima *-*
    o livro super me surpreendeu... mesmo eu achando ele nada a ver com a capa... me encantei bastante... a novo conceito irá publicar outros livros da autora... confesso estar bem ansiosa... e vc?
    beijos

    Amy - Visite o Macchiato

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  3. Adorei a resenha! Ando vendo muitos blogs falando sobre o livro e confesso que tô ficando com vontade de ler. Nunca vi uma estória com tanta obsessão assim, e parece ser bem envolvente.

    Beijos, Carol
    Thousand Worlds

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  4. Amei a resenha
    tinha medo de ler o livro e me apaixonar pelo namorado ciumento e obsessivo,mas pelo jeito o personagem não foi bem trabalhado.
    Quero ler logo!!!
    bjos

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  5. Gostei bastante de sua resenha e do questionamento do livro. É inegável o tanto de relacionamentos abusivos que são romantizados em livros, filmes e séries e que faz com que muita gente deseje o mesmo para si, talvez esse seja o livro que dê uma sacudida nelas.

    Beijos,
    whosthanny.com

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